O movimento de chegada de institutos e fundações ao campo dos negócios de impacto vem aos poucos ganhando aderência no país. Fabio Deboni, no Instituto Sabin, que moderou uma mesa sobre o tema durante o FIINSA, aponta que embora ainda não haja um número muito grande de fundações trabalhando nisso, já há um acúmulo: “Nós, enquanto institutos e fundações, estamos buscando identificar exatamente como podemos somar e contribuir no campo dos negócios de impacto. O trabalho de coalizão e co-investimento deve se intensificar. Mais institutos vão embarcar”.
Nessa entrevista ligeira, Deboni, que integra o grupo FIIMP – Fundações e Institutos de Impacto -, fala um pouco sobre como está esse movimento no Brasil e tendências.
No GSG Summit 2018 (evento mundial voltado ao campo dos negócios de impacto), que acontece recentemente na Índia, um dos pontos de destaque foi o crescimento do envolvimento de fundações e institutos nesse campo. E no Brasil, como estamos?
Esse tema vem ganhando aderência já há algum tempo aqui também. Acho que é um tema que está ‘na moda’, entre aspas, e enquanto fundações e institutos estamos tentando identificar exatamente como somar e contribuir. Eu diria que estamos numa fase exploratória, de entender melhor esse tema e identificar onde atuar.
Já há alguns caminhos despontando nesse sentido?
Sim. Acho que um deles é a premissa de que investimento de impacto não é uma linha evolutiva da filantropia, mas é uma nova ferramenta que se adiciona ao que a filantropia já faz há muito tempo. Tem-se uma clareza de que institutos e fundações deveriam contribuir para fortalecer o ecossistema de negócios de impacto. De que o capital filantrópico pode ser mais paciente e apoiar estágios de negócio ainda menos maduros. Que se pode construir e constituir, disseminar repertório, conhecimento sobre esse tema especificamente para fundações e institutos.
Qual a importância do FIINSA na agregação dos atores do campo dos investimentos e negócios de impacto?
Achei genial a ideia de, na terceira edição do Fórum Nacional de Finanças Sociais e Negócios se Impacto, promovido pelo ICE em junho de 2018, se estimular iniciativas regionais, como o FIINSA. Nós tivemos um também em Brasília, com muita aderência. Então é legal ver isso acontecendo pelo Brasil. E ver aqui na Amazônia, em Manaus, uma casa cheia, boa mobilização, diferentes atores que estão na região. Esse tipo de iniciativa veio para ficar. Não adianta a gente ficar esperando que isso aconteça no eixo rio-são Paulo sendo que as pessoas estão aqui, os desafios estão aqui, as soluções estão aqui. Então por que não rodar aqui tudo isso?
Como vê a união de diversos atores, incluindo as fundações, na diversificação das fontes de investimentos de impacto?
A atuação em rede já não é nova no terceiro setor. Somada ao cenário de dificuldade de obtenção de recursos, inclusive para as fundações, temos um cenário que favorece esses arranjos. Esse é um dado. O outro é construir acordos de coalizações – que não simples, não é algo trivial e requer um trabalho de governança muito forte. E transparência. Nem todos os institutos e fundações estão abertos atualmente a lidar com isso. É um desafio grande desapegar da sua agenda institucional, que para as fundações tem recorte temático e territorial, em prol de uma ação mais colaborativa, mais coletiva, em que não necessariamente você vai conseguir dar as cartas a todo momento. É um desafio interessante.
Você arrisca alguma tendência para os próximos anos?
Acho que esse trabalho de coalizão e de co-investimento vai se intensificar. Acredito que mais institutos vão embarcar nisso. A partir de então, a tendência é ‘nichar’ um pouco mais. Vai ficar mais claro para os institutos qual o papel deles nessa história, o que dialoga melhor com a sua linha institucional e eles vão acomodar melhor as abóboras na carruagem. Ainda estão faltando abóboras e a carruagem começou a andar há pouco tempo. Acho que nos próximos cinco anos a gente vai ter isso mais claro.