Investir em negócios de impacto na Amazônia traz desafios. Alguns investidores reclamam da ausência de pipeline, o que já vai sendo resolvido com os recentes mapeamentos efetuados pela PPA e pela Conexsus. Outros, da burocracia e das garantias e/ou valores mínimos de faturamento necessários para obter financiamento.
A Mov Investimentos destinou, na última década, quase R$ 232 milhões para a região Amazônica, aplicados em empresas como Amata Florestal (que faz a ponte entre a floresta e o mercado consumidor ao disponibilizar madeira certificada, produzida com responsabilidade socioambiental e garantia de origem), Biofílica Investimentos Ambientais (focada na gestão e conservação de florestas a partir da comercialização de serviços ambientais, pesquisa, desenvolvimento socioeconômico de pessoas e comunidades e intermediação de negócios entre produtores e proprietários de matas nativas), Mar & Terra (especializada na reprodução de espécies amazônicas, como o Pirarucu e o Pintado) e a Órigo Energia (que embora não baseada na região, trabalha também para levar energia solar a comunidades isoladas na Amazônia).
Os dados foram divulgados por Paulo Belloti, da Mov Investimentos, durante o FIINSA. “A Amazônia é a integração quase perfeita da tese de investimento com a tese de impacto. A primeira está muito calcada no valor da marca Amazônica, que tem muito potencial para ser desenvolvida no Brasil e fora dele. O soft power que o Brasil tem no mundo está muito ligado a isso, ao agronegócio que depende da Amazônia como regulador climático. A tese de impacto é a preservação da floresta, integração das comunidades e aumento de renda. É o locus central da integração dessas duas teses. Por isso a gente busca criar negócios liderados por empreendedores capacitados e com mentalidade resiliente para tocar os empreendimentos ao longo do tempo, que vão trabalhar com cadeias longas de suprimentos, para gerar grande quantidade de empregos e qualidade”, avalia Paulo.
Os recursos da Mov buscam negócios que já estejam faturando entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões, mas há muitos outros pequenos negócios que ainda precisam de mais tempo – e investimento – para chegar a um modelo válido, capaz de gerar escala e começar a faturar um valor próximo a esse.
A Kaeté Investimentos, que também investe em negócios na Amazônia, tem como ponto de partida empreendimentos que faturem, ou estejam próximos de faturar, R$ 10 milhões por ano. Entre os negócios investidos estão a Peixes da Amazônia (complexo de piscicultura dedicado à reprodução e processamento de peixes nativos da Amazônia), Dom Porquito (produção de suínos em parceria com pequenos e médios produtores integrados) e a Ouro Verde Amazônia (modelo sustentável de agregação de valor em produtos florestais não madeireiros).
“Temos extraordinárias oportunidades de mercado. Estamos alinhados com os produtos com os quais trabalhamos, com a perspectiva e o desejo dos consumidores. Associados a cadeias de impacto socioambiental positivo. É uma linha sinérgica com o que o consumidor demanda no futuro. Mas tivemos dificuldades em encontrar negócios na chamada Amazônia profunda, empresas que processam produtos não madeireiros. Pelo perfil do fundo, exigências e tamanho dos negócios. Analisamos uma série de empreendimentos não madeireiros, mas nenhum se qualificou na questão da escala e gestão do negócio. A barra ficou alta para suportar negócios que acho extremamente importantes para a Amazônia. O primeiro investimento que fiz, há 20 anos, foi justamente em castanha”, diz Luis Fernando Laranja, cofundador da Kaeté.
Esse é um dos grandes desafios para que os chamados negócios de impacto se desenvolvam. Uma das apostas para melhorar essa situação é o mecanismo chamado blended finance, que mistura diversos tipos de capital para impulsionar o negócio. Institutos e Fundações privadas, por exemplo, também já estão entrando nesse campo, tendo mais tranquilidade para esperar um pouco mais o retorno do investimento. Muitas vezes podem prover capital semente ou outras modalidades para que os negócios se organizem e estejam prontos ou comecem a escalar, e possam então contar com aportes maiores de investidores.
O Fundo Amazônia, que contabiliza 102 projetos apoiados e R$ 1.011 milhões desembolsados, também coloca essa possibilidade no futuro próximo. “No começo do Fundo, em 2009, tivemos uma primeira experiência de apoio a projetos de atividades produtivas sustentáveis em investimentos pontuais. Em 2012, achamos que era necessário ganhar mais capilaridade, e colocamos como público alvo as comunidades tradicionais. Fizemos uma chamada pública de projetos e atividades, buscando maior aglutinação e parceiros. Em 2017 veio outra chamada para pequenos projetos, mas pensando em estruturação de cadeia de valor, com todas as fases até a comercialização. Todo esse histórico remete a cerca de R$ 122 milhões em produtos comercializados. Ainda existe espaço para pensarmos em uma nova fase, em que esses produtos ganhem uma escala de negócios. Os recursos do Fundo não são reembolsáveis, é possível que possam ser combinados com recursos privados ou de outras fontes, para catalisar os investimentos que já são feitos e alavancar os negócios na região, conseguindo escala e atração de outros recursos”, diz Daniela Baccas, do Fundo Amazônia/BNDES.