Medir resultados ainda é um ponto que gera insegurança no campo dos negócios de impacto. E muito disso decorre de não haver um consenso sobre o que é exatamente impacto.
Antonio Ribeiro, da Move Social – que trabalha para apoiar organizações na ampliação e qualificação dos impactos sociais e ambientais de suas ações -, apontou, durante o FIINSA, que embora não haja esse consenso, o impacto deve ser entendido como toda mudança que se dá. “Há diferenças quanto a isso. Há quem defenda impacto como qualquer transformação, e há quem diga que impacto é aquela mudança mais de longo prazo, mais complexa. E os desafios são vários, para além desse ponto de partida. É responsabilidade só do empreendedor, medir esse impacto? A Move entende que não. Que ele tem muito que fazer: colocar o negócio de pé, fazer funcionar. É uma responsabilidade do ecossistema”.
Um outro ponto destacado por ele é a questão do método a ser usado na avaliação: não existe método de ouro. O melhor é aquele que atende aos contornos de capacidade da instituição, tanto financeira quanto de recursos humanos.
Na Fundação Boticário, o trabalho se concentrou em encontrar indicadores que conectassem o social com o ambiental, e fossem socioambientais. Essa divisão por muito tempo vem embaralhando as equações, e no caso da perda da biodiversidade e de colapso ecossistêmica, o impacto tem também aspectos econômicos e sociais. Não é possível analisar separadamente esses aspectos, estão interconectados.
“Como gerar impacto ambiental positivo? Trabalhamos com três casos/valores: iniciativas que reduzem efeitos de impacto ambiental negativo, embora ele continue a acontecer; inciativas que, dentro de cenário ambiental, zeram negócios negativos, evitam a deterioração do capital natural e ficam no ‘zero a zero’; e inciativas e modelos de negócios que aumentam o capital natural, com base da prosperidade econômica e bem-estar social, gerando impacto positivo. Nos desafiamos, na Fundação, a buscar negócios que gerem o terceiro tipo de impacto”, aponta Fernando Campos.
Claudio Padua, do IPE, qualifica a caixa de ferramentas para medir impacto como imensa e fantástica, mas admite que essa variedade pode gerar confusão. Como exemplo disso ele cita o caso de uma senhora, companheira de curso em Harvard, que tirou do crime dezenas de jovens com seu trabalho e não conseguia financiamento porque não conseguia provar o impacto das ações. “Temos que ter um cuidado grande com esse processo. É importante medir o impacto, mas isso não pode ser tudo”.
Outro ponto destacado por ele é que é caro, para uma ONG que tem dificuldade de captar recursos para administração e RH, medir impacto. “Pagar para fazer avaliação de impacto é muito caro. Não estou dizendo que não é preciso fazer. É desejável e seria bom se pudéssemos fazer sempre, mas é preciso avaliar os custos”.
Modelo C
Ir para uma avaliação sem ter uma teoria de mudança não funciona. É o que aponta Antonio, da Move. Após sofrer muito com mensuração, a organização começou a trabalhar com teoria de mudança em 2012. “Entender a tese de transformação de um negócio é muito importante e amplia a visão. Isso fez a gente quase que abandonar a pretensão de medir o que está no fim e buscar medir também o que está em curto e médio prazo. Se a tese para de pé, se o negócio está no caminho de alcançar os impactos. Mas não dá para ter também só a teoria de mudança, junto tem que vir um modelo de negócio. E o que vimos é que os dois não podem mais existir separadamente. Desenvolvemos então o Modelo C, que é uma estrutura de provocação para pensar as duas coisas juntas, entendendo que o fluxo de impacto deve estar vinculado ao modelo de negócios”, diz ele.
O Modelo C, já disponível, pode ser acessado clicando aqui. E Antônio levanta ainda alguns pontos importantes a serem levados em consideração quando o assunto é mensuração/avaliação:
– Avaliação tem que gerar aprendizado
– Precisamos levar em conta a questão do impacto coletivo. Ter uma teoria de mudança coletiva, com todo mundo envolvido no território, vendo onde cada um se encaixa, e não fazer isso sozinho.
– Usar o que já foi feito pode facilitar o trabalho. O caminho para isso pode ser as organizações publicarem suas avaliações, por exemplo. Muitos indicadores adotados poderiam servir para outros negócios e modelos de avaliação
Algumas outras publicações da Move que podem ajudar na área de avaliação e mensuração de impacto: