Negócios de impacto e mudanças climáticas

A transição para uma economia de baixo carbono e os negócios de impacto na Amazônia têm uma relação muito próxima. O Brasil tem se comprometido internacionalmente, como boa parte do mundo, com essa transição, diretamente relacionada ao acesso que o país tem a outros mercados. Para isso, as principais medidas são reduzir o desmatamento e recompor florestas.

Iniciativas como a da Alimi Impact Ventures e da Rababonk Foundation, que elaboraram uma avaliação de mercado sobre o investimento de impacto na agricultura climate smart no Brasil, começam a criar conexão entre essas duas pontas – mudanças climáticas e negócios de impacto. “Começamos com um mapeamento de iniciativas de agricultura climate smart no Brasil. Das 50 que encontramos, detalhamos seis com recortes mais aprofundados de caso. Mostramos aos investidores que esses já são investíveis”, diz Angelica Rotondaro, da Alimi.

Ela destaca ainda a necessidade de novos mecanismos de investimento, como blended finance e fundos de pensão, discussões que já começaram a acontecer na Europa, em especial na Holanda. “Precisamos pensar em mecanismos mais ágeis e modernos. Por que, por exemplo, debenture precisa ser disponibilizada apenas junto a grandes bancos? Por que não pensar em criptomoedas, crowdfunding, enfim, possibilidades muito mais leves? ”

A Climate Ventures, em parceria com a Climate Launchpad e a Pipe Social, realizou em 2018 uma chamada de bons negócios pelo clima, buscando mapear o que já acontece no país. Um diagnóstico inicial apontado é que negócios que trazem soluções em economia da floresta ou energias renováveis muitas vezes não se enxergam como negócios de impacto ou negócios pelo clima. Ao todo, 315 negócios foram analisados pela chamada.

No levantamento não entraram negócios que já estão transacionando, e 40% do volume apresentado ainda não tem faturamento. Algumas faturam até R$ 100 mil, e outras chegam a pouco mais de R$ 1 milhão. Praticamente metade da base está buscando aceleração e investimento. Dos que estão captando, uma maioria busca até R$ 500 mil. Na região norte, que concentra 18% do total de negócios (57), as iniciativas relacionadas à floresta são maioria.

As informações foram compartilhadas por Daniel Contrucci, da Climate Venture, durante o FIINSA. “A força desses negócios é muito grande, mas se não olharmos para novos mecanismos financeiros, políticas públicas e novos modelos mentais, não avançaremos”, avalia ele.

A Climate Venture trabalha também com um laboratório de inovação, buscando olhar como construir e fortalecer ecossistemas, mecanismos financeiros e políticas públicas que facilitem o desenvolvimento de uma nova economia segundo o princípio de manter a floresta viva e de que as pessoas possam ter renda e manter o planeta saudável.

Uma iniciativa que segue nesse sentido é o Café Agroflorestal Apuí, cultivado por colonos na cidade de Apuí em parceira com o IDESAM. “De fato, o desmatamento é a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Mas foi na Amazônia onde tivemos o maior resultado, entre países do mundo inteiro, em termos de redução de emissões. O desafio é como alavancar novos investimentos com base nisso”, diz Pedro Soares, do IDESAM “No caso do café Apuí, vendemos também redução de emissões. No sistema agroflorestal, plantando árvores gera-se também redução de emissões, e isso pode ser contabilizar e transacionado, aumentando o potencial de relacionamento daquela cadeia com outros indivíduos”.

Pedro relata um novo arranjo na área de serviços ambientais relacionado à produção do café, junto à cooperativa do Reflorestamento Econômico Consorciado Adensado (RECA) e a Natura. “Desenvolvemos o maior programa de inset do Brasil. A Natura trabalha com a maior cadeia de fornecedores do pais, e nós avaliamos como ela pode contabilizar o impacto positivo gerado na própria cadeia de suprimentos. A cooperativa do RECA beneficia e vende para a Natura, e o IDESAM ajudou a desenvolver com a empresa um método para calcular emissões ou desmatamento evitado pelos lotes dos produtores vinculados ao RECA. Mapeamos o limite de cada um dos lotes dos produtores cooperados, a área produtiva e geramos uma metodologia, que é pública, para monitorar a performance de cada lote sobre redução de emissões. A Natura compra a reverte mais um ativo para essa comunidade. Criamos um fundo coletivo, em que 50% desse recurso é aplicado na gestão coletiva do RECA. O restante vem em pagamento por serviços ambientais. Em 2015, os cooperados tiveram mais renda de crédito do que com a venda de produtos”.

Como transmitir esse tipo de valor, que não está no produto, por meio de instrumentos financeiros? Para Angélica, da Alimi, monetizar os serviços ambientais para as empresas não é complicado. Ela sugere uma perspectiva inicial de custo economizado, adicionando tanto pela perspectiva do consumidor quanto pela da empresa, o quanto isso economiza de custos. A Alimi trabalha atualmente no desenvolvimento de um protótipo com esse foco.

Dentro do laboratório de inovação da Climate Venture surgiram dois protótipos inovadores: Letras de crédito agrário verde e bioagronegócio (integração lavoura, pecuária e floresta). No segundo caso, o projeto piloto vem sendo desenvolvido na Fazenda do Futuro, no Araguaia, herdada por uma nova geração, e usa tecnologia social adaptada e replicável para outas realidadades. “Os assentados ao redor foram convidados a integrar um sistema produtivo com essas características”.

Pedro, do IDESAM, sugere que em vez e se criar uma letra de crédito para o agronegócio, que seja viabilizada uma para a floresta. “Estamos trabalhando nisso. Temos

muito mais perguntas do que respostas no caso desse protótipo, mas estamos trabalhando com a Sitawi, o Fundo Vale e a Caixa Econômica Federal para desenvolver esse modelo”.

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