Uma chamada de negócios de impacto realizada este ano pela Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) mapeou 81 negócios na região, nas mais diversas áreas: tecnologia verde ligada à promoção de agricultura e pecuária sustentável, manejo florestal sustentável e valorização dos produtos da sociobiodiversidade, combate ao tráfico de animais e à exploração madeireira ilegal, além de projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Destes, 15 foram selecionados como finalistas e participaram de apresentações ligeiras dos negócios a investidores e de uma rodada de negócio durante o 1º Fórum de Investimentos Sociais e Negócios Sustentáveis na Amazônia (FIINSA), que aconteceu nos últimos dias 13 e 14 de novembro em Manaus e reuniu centenas de empreendedores, investidores, empresas, organizações da sociedade civil, institutos, fundações e demais atores envolvidos com o campo dos negócios de impacto.
Ao todo, foram investidos mais R$ 1 milhão em startups, negócios de base comunitária e empresas com impacto socioambiental. Quatro negócios em estágio mais avançado, que buscavam investimentos para expansão e ganho de escala, receberam R$1,1 milhão por meio de uma rodada de negócios em estilo shark tank.
Os outros empreendedores finalistas ganharam a oportunidade de participar do Programa de Incubação e Aceleração da PPA e concorreram ao Prêmio Empreendedor PPA 2018. Durante o FIINSA, eles apresentaram seus negócios a uma banca de especialistas, que selecionou as melhores iniciativas. Quatro deles receberam o Prêmio, totalizando R$ 60 mil.
Uma das empresas a participar da rodada de negócios, a Manioca Sabores da Amazônia é uma indústria gastronômica criada em 2014 baseada em três ideias: trabalho com ingredientes da Amazônia, produtos 100% naturais e promoção do comércio justo junto a produtores, comunidades, cozinheiros e todos que são a base da culinária paraense. Assim se desenharam produtos como geleias de pimenta de cheiro, de priprioca e de taperebá; o doce de cupuaçu; o molho de tucupi preto e o tucupi temperado; o licor de flor de jambu e o feijão manteiguinha, dentre outros itens que são beneficiados e comercializados. Os recursos obtidos serão empregados em capital de giro, plano de comunicação, marketing e expansão do mercado.
A Peabiru Produtos da Floresta compra mel e colmeias de agricultores familiares, cuidando da logística, beneficiamento, SIF, venda e pós-venda. Ao mesmo tempo, proporciona renda a agricultores familiares, indígenas, quilombolas e povos tradicionais da Amazônia, e promove maior polinização agroflorestal, restauração ecológica e diminuição do desmatamento. O negócio é um spin-off do Instituto Peabiru, cuja atuação em uma década possibilitou, pela primeira vez, uma cadeia comercial, legalizada e regulamentada, de mel de abelhas sem ferrão na Amazônia. A empresa é hoje a única no Brasil com Selo de Inspeção Federal (SIF) para a comercialização regular desse produto, que é o único que pode ser exportado. Os recursos obtidos serão utilizados para comercializar cinco tipos de produtos da Amazônia: mel de abelhas, cacau, óleos da Amazônia, farinhas e feijão.
A revitalização da borracha amazônica, gerando renda com inclusão e sem desmatamento, resgatando ao mesmo tempo a identidade seringueira, é o foco da Encauchados de Vegetais da Amazônia, que também participou da rodada de negócios. A iniciativa promove o desenvolvimento e a reaplicação de tecnologia social que transforma o látex nativo em produtos de mercado, permitindo autonomia e autogestão em unidades de produção familiares sustentáveis, envolvendo povos indígenas, seringueiros, ribeirinhos, quilombolas e assentados da reforma agrária. Os recursos serão empregados na ampliação da indústria e implantação de unidades financeiras de produção controladas, promovendo extrativismo sustentável.
A Ração + cria rações usando resíduos de frutos e outros alimentos da região, que seriam descartados como lixo, e ajuda a triplicar a produção local de peixes a um custo mais reduzido para os pequenos produtores. A ração é vendida a um valor até 20% mais barato do que no mercado. Os recursos investidos serão usados para aquisição de maquinário, instalações, capital de giro e regularização jurídica e ambiental.
O Prêmio Empreendedor PPA foi concedido aos negócios Broto (que visa atender a demanda da automação para a hidroponia por meio de um sistema integrado de sensores, Big Data e mobile, aumentando a produção sustentável junto a produtores entre 40 e 60 anos), Onisafra (plataforma que gerencia a conexão de agricultores com consumidores finais, com pontos físicos para entrega e retirada dos produtos), Sustente Ecosoluções (uso de larvas de insetos para degradar lixo orgânico; as larvas são usadas como alternativa proteica para alimentação animal) e Da Tribu (desenvolve acessórios de moda com tecnologia da floresta – látex – gerando renda para famílias ribeirinhas).
“A economia do desmatamento relacionada ao uso da terra está tão bem estabelecida na Amazônia que é muito difícil ir contra. Qualquer negócio que se proponha a gerar retorno financeiro, com uma economia de restauração e produção dissociada do desmatamento, já é em si extremamente inovador. E inovação sempre tem risco. Quando não se tem uma fonte de apoio financeiro a fundo perdido, o investidor tem que estar disposto a correr riscos”, avalia Mariano Cenamo, pesquisador sênior do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (IDESAM) e coordenador da PPA. “Precisamos de negócios que solucionem problemas ambientais e sociais urgentes, em especial na Amazônia. Por que negócios de impacto? Porque não é possível proteger a floresta sem melhorar a qualidade de vida das pessoas”, completa.